"O Estado deveria ter baixado o valor do pedágio no Sistema Anchieta-Imigrantes"
Ex-governador de São Paulo, Márcio França fala sobre ações importantes para a Baixada Santista
03/10/2021 - domingo às 07h00Segundo político da Baixada Santista a ocupar o cargo de governador de São Paulo (Mário Covas foi o primeiro), Márcio França (PSB) tornou-se uma espécie de anti-Doria, tucano que hoje comanda o Palácio dos Bandeirantes, desde que os dois disputaram, voto a voto, a cadeira principal do Estado em 2018, vencida por João Doria no segundo turno por uma diferença de 3,5 pontos percentuais. Desde então, aponta as inconsistências na gestão do adversário e se prepara para tentar reconquistar a cadeira de governador na eleição do ano que vem. “Deixamos de ganhar por pouco. Mas ganhamos coerência e enorme respeito da população”.
Santista de nascimento e com sua história política ligada a São Vicente, cidade em que foi prefeito por dois mandatos (entre 1997 e 2004), Márcio França chegou ao comando do Estado em abril de 2018, quando o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) deixou o posto para disputar a eleição presidencial. Desde então, os dois – França e Alckmin – seguem numa aliança programática, sem descartar uma união para a eleição do ano que vem.
Presidente estadual do PSB, França cobra uma atuação mais firme do Estado junto à Ecovias, concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes, e que, na avaliação dele, deveria solucionar falhas que prejudicam a população da Baixada Santista. Para o político, a terceira pista da Imigrantes precisa ser viabilizada rapidamente, já que há risco de saturação da rodovia. “Ao ter aumentado o período de concessão, o Governo deveria ter baixado o valor do pedágio”, diz.
Nesta entrevista ao Portal BS9, o ex-governador responsabiliza João Doria por não ter reduzido o ICMS dos combustíveis para amenizar o impacto do aumento da gasolina nos postos. “O único ICMS que ele baixou foi de querosene de aviação. Claro, porque ele só anda de avião". Fala, também, como postulante ao governo do Estado, de planos para a região.
1- O Sistema Anchieta-Imigrantes, apesar de oferecer boas condições nas estradas, recebe muitas críticas tanto em relação ao preço de pedágio, ao modelo em que são adotadas as operações de liberação de pista - afetando, sobretudo, moradores da Baixada Santista em períodos de grande circulação de veículos - quanto à falta de segurança em muitos pontos. Para o senhor, como deve ser o modelo de concessão das estradas estaduais? E há planos de construção de uma terceira pista de acesso ao litoral?
O Governo do Estado, poder concedente da rodovia, deve exercer mais autoridade para resolver estas falhas no Sistema, sobretudo as que afetam a população da Baixada Santista. A terceira pista precisa sim ser viabilizada, pois esta temporada de verão já vai mostrar o risco de saturação do Sistema Anchieta-Imigrantes. Ao ter aumentado o período de concessão, o Governo deveria ter baixado o valor do pedágio.
2- Vários governadores, em momentos distintos, chegaram a apresentar propostas, inclusive com maquetes, de ponte e de túnel para a ligação seca entre Santos e Guarujá. Hoje, há uma proposta do governo federal de incluir a construção de um túnel imerso no modelo de privatização da gestão do porto. Como o Estado pode atuar nesse tema? E qual opção o senhor considera a melhor? Por quê?
Seja ponte ou túnel não dá mais para adiar este sonho de quase um século. É preciso considerar qual a opção mais rápida e a que não obstrua a expansão natural do Porto de Santos. Não podemos nos esquecer do exemplo da Ponte Pênsil, hoje tombada, e que congelou o desenvolvimento da região estuarina de São Vicente. Se eu tivesse ficado mais tempo no Governo do Estado, as obras da ligação seca estariam perto da inauguração.
"É desumano a Petrobras aumentar por oito vezes consecutivas o preço do combustível quando o País tenta se reerguer diante dos prejuízos econômicos causados pela pandemia"
3- O preço do litro da gasolina chegou a R$ 7 em muitas cidades e é um dos vilões da inflação deste ano. Se for candidato e caso eleito governador do Estado, o senhor pretende trabalhar pela redução do ICMS dos combustíveis? O que mais o Estado poderá realizar para diminuir o impacto à população?
É desumano a Petrobras aumentar por oito vezes consecutivas o preço do combustível quando o País tenta se reerguer diante dos prejuízos econômicos causados pela pandemia. A empresa, que detém o monopólio do setor, teve um lucro de R$ 43 bilhões em 90 dias, sendo que 40% dos acionistas são estrangeiros. O governador de São Paulo já deveria ter baixado o ICMS dos combustíveis. O único ICMS que ele baixou foi de querosene de aviação. Claro, porque ele só anda de avião.
4- O senhor aumentaria em quanto, percentualmente, o repasse de recursos estaduais aos municípios?
O percentual do aumento dos repasses ainda não defini, pois não tenho acesso completo aos números do Governo. Mas precisa ser feito para que os 645 municípios paulistas possam se reerguer, fazer obras e gerar empregos. São Paulo precisa ficar de pé novamente e vou dar um jeito de ajudar as cidades.
5- Qual sua proposta para fomentar o turismo, em especial na Baixada Santista, após o impacto da pandemia? Como garantir a volta do turismo com segurança sanitária?
Dentre tantas medidas, vou retomar imediatamente o Roda SP, que permitiu a muita gente circular entre as cidades da região. Vamos recuperar o investimento em turismo, como o Dadetur, e reativar roteiros que incluam servidores públicos, estudantes e inúmeras categorias profissionais, que querem viajar, mas não recebem incentivos.
6- Quatro cidades da Baixada Santista (Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe e Praia Grande) estão entre os 10 municípios do Estado com maiores índices de exposição à criminalidade violenta, segundo o Instituto Sou da Paz. Como garantir a segurança da população? Isso passa por investimentos para a evolução do trabalho das polícias Civil e Militar?
Nossos policiais militares e civis sabem como combater a criminalidade. Temos que deixá-los trabalhar, dando melhores condições e incentivos. Outro caminho é incluir jovens em situação de vulnerabilidade social em programas de primeiro emprego, educação e disciplina, que os afastem das ofertas dos criminosos, como já fiz.
"Temos que adotar um esquema de reforço para todos os alunos, uma verdadeira maratona de recuperação para impedir que se forme uma legião de excluídos no ensino paulista"
7- Há um consenso de que o ensino remoto, adotado durante a pandemia, afetou a qualidade do aprendizado, principalmente na rede pública de ensino. O que o senhor defende para garantir essa reposição do que foi perdido e qual o projeto de seu eventual governo para assegurar a melhoria na qualidade da Educação Básica?
Quando governador, fiz a Univesp, com ensino a distância, saltar de 3 mil para 50 mil alunos. Ficou provado que dá para incluir todos os estudantes nesta modalidade e assim ajudá-los a recuperar o tempo perdido. O problema é que o Estado não entregou o ensino virtual que prometeu. Se fizer direito, o resultado é bem melhor. Agora, temos que adotar um esquema de reforço para todos os alunos, uma verdadeira maratona de recuperação para impedir que se forme uma legião de excluídos no ensino paulista.
8- O senhor quase se tornou governador do Estado no último pleito – o que não ocorreu por uma diferença de 3,5 pontos percentuais. Onde acredita ter errado naquela ocasião e o que faria diferente dessa vez?
Deixamos de ganhar por pouco. Mas ganhamos coerência e enorme respeito da população, que hoje, como mostram todas as pesquisas, nos coloca entre os favoritos. Desta vez temos grandes aliados e vamos conseguir resgatar a pujança e liderança do Estado de São Paulo.
9- Qual a sua análise sobre a atenção dada à Baixada Santista pelo governo atual? O que acredita que merece ser realizado prioritariamente, caso seja candidato e eleito?
O governador Doria só traz pedágio, aumento de imposto e mentiras para a Baixada Santista e o Vale do Ribeira. A nossa região precisa de um projeto de resgate urgente, com incentivos ao turismo, às obras de infraestrutura e de formação dos jovens e dos trabalhadores, pois muitos empregos virão com a retomada.