SAÚDE

Pesquisa revela como a Covid pode causar sérios danos ao cérebro

Estudo conduzido pelo Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), revelou alterações moleculares que podem estar por trás dos sintomas neurológicos apresentados por pacientes acometidos pela doença

09/08/2024 - sexta às 17h30

O estudo recém publicado na revista Brain, Behavior, & Immunity Health https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2666354624000838?via%3Dihu revelou alterações moleculares que podem estar por trás dos sintomas neurológicos apresentados por pacientes acometidos pela doença.

A pesquisa observou que muitos pacientes que tiveram sintomas leves, acabaram por apresentar perda cognitiva e dificuldade de concentração por longos períodos após a infecção. Por isso, é importante estudar como a Covid afeta o cérebro ainda na fase aguda da doença, pois isso pode trazer pistas relacionadas às sequelas neurológicas. Durante a infecção, é possível os pacientes desenvolverem sintomas neurológicos, como dores de cabeça, fadiga, perda de olfato e, até complicações mais severas, como AVC e Encefalite (inflamação do cérebro, quase sempre causada por uma infeção).

 A primeira autora do estudo, Fernanda Aragão, Pós-Doutoranda do IDOR, comenta que a pesquisa é uma das primeiras a conectar exames de imagem e sintomas neurológicos com biomarcadores neuroinflamatórios capazes de refletir a gravidade da doença aguda, uma complicação que até hoje é difícil de prever.

"Esse estudo revela que a neuroinflamação é um ponto comum em casos neurológicos da doença, mesmo em pacientes com quadros diversos, moderados ou graves. A identificação desses marcadores inflamatórios que conectam a gravidade da COVID e alterações de neuroimagem pode ser muito importante para o desenvolvimento de terapias, visando tanto o tratamento tanto durante a infecção aguda da covid-19, bem como para os pacientes com os efeitos persistentes da chamada covid longa", acrescenta a pesquisadora.

Como o estudo foi conduzido

 Os pesquisadores do IDOR analisaram dados de pacientes confirmados com a doença hospitalizada na rede de Hospitais D'Or São Luiz, entre abril e novembro de 2020.

A amostra incluiu 35 pacientes com idades entre 26 e 87 anos, divididas entre casos moderados e graves. (Os dados foram coletados de prontuários médicos e incluíam exames de imagem (ressonância magnética e tomografia), de sangue e análise do líquido cefalorraquidiano LCR) - fluído que envolve o cérebro e a medula espinhal, importante para detectar infecções e inflamações no sistema nervoso central. Dez amostras de LCR de pacientes não infectados serviram como grupo controle.

Pesquisa revela novos impactos da Covid no cérebro

A análise dos dados revelou que a maioria dos pacientes apresentava pelo menos uma comorbidade, com 65,7% apresentando duas ou mais. Cerca de 85,7% dos pacientes apresentaram sintomas neurológicos assim que davam entrada no hospital, quadro clínico que foi até mais expressivo que os sintomas respiratórios.

Os exames de imagem mostraram que 28,6% dos pacientes tinham alterações focais ou difusas no cérebro, associadas à Covid, incluindo lesões desmielinizantes, encefalite e AVC.

Os exames de sangue indicaram que 66% dos pacientes apresentavam sinais de uma resposta inflamatória exacerbada. Análises proteômicas do LCR mostraram uma alteração no padrão de proteínas comparado aos controles, com 116 proteínas significativamente desreguladas, relacionadas ao sistema imunológico e processos metabólicos.

Citocinas pro-inflamatórias estão associadas à gravidade da doença

 Os níveis de duas citocinas pro-inflamatórias, IL6 e TNFα, estavam elevados no LCR dos pacientes com Covid, sendo IL6 particularmente mais alta nos casos graves. Essas citocinas estão associadas à gravidade da doença e às alterações observadas nos exames de imagem.

Apesar da distinção de gravidade encontrada a partir desses biomarcadores, os pesquisadores ressaltam que a neuroinflamação independe da gravidade da doença, e deve ser uma das principais causas das doenças neurológicas associadas à Covid. Eles ressaltam que até pacientes com casos mais leves mostraram alterações significativas no LCR, sugerindo que a resposta inflamatória do corpo pode afetar o cérebro de formas ainda não completamente compreendidas.