VARIEDADES
Alexandre Paulino tem 34 anos como mergulhador e é apaixonado pelo mar
Da Redação BS9 - Marina Estevão
16/02/2023 - quinta às 15h18
Monitor da Laje de Santos, Alexandre tem todos os mergulhos registrados em um diário de bordo - Arquivo Pessoal
A pouco mais de 40 km da costa litorânea, no Parque Estadual Laje de Santos, o mergulhador Alexandre Vicente de Sousa Paulino avista oito arraias-jamanta nas águas cristalinas. Esta é só uma das espécies marinhas que ele viu em seus 34 anos de profissão. "Tinham oito em volta da gente ali durante o mergulho. São animais grandes, que inspiram aquela 'batida do coração'", brinca.
Alexandre é monitor credenciado na Laje de Santos. De seus 52 anos, 34 são dedicados a uma de suas maiores paixões: o mar. Formado em Ciências Biológicas, ele fez o curso básico de mergulho em 1989. Cerca de 6 anos depois, começou a fazer trabalhos de mergulho. Em 1997, obteve a credencial de Divemaster CMAS, uma certificação internacional dos mergulhadores.
No último domingo (12), registrou a marca de 1900 mergulhos em pouco mais de 3 décadas de profissão. Quase 1500 deles foram no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, lar de uma fauna impressionante. Mesmo depois de tantos, para ele, "o melhor mergulho é sempre o próximo". Sua experiência é digna de um livro do Júlio Verne, autor do qual Alexandre é fã.
A Laje de Santos é um mar aberto, ou seja, é ligado ao oceano, circundado por apenas uma parte de terra. Então, há várias espécies da fauna marinha. "Eu já vi baleias, golfinhos, algumas vezes tubarões, que são mais raros. Uma coisa legal que fazia muito tempo que eu estava querendo ver e nunca tinha conseguido até o passado foi o peixe-lua".
E ele tem tudo registrado em seu logbook - como os biólogos chamam o diário de bordo. "Nele a gente registra alguns dados, como, por exemplo, o local, data, temperatura da água e do ar, profundidade e o que você observou de mais relevante", explica.
Preservação da biodiversidade
Alexandre chama a atenção para um assunto urgente: a preservação da biodiversidade marinha. Embora tenha o privilégio de ver as belezas do mar, nem sempre encontra uma surpresa agradável. Em um dos mergulhos recentes, ele e a equipe encontraram uma tartaruga morta com uma sacola plástica envolta no pescoço. "Nós encontramos durante a navegação uma tartaruga. Encostamos [o barco] para tentar libertar ela, mas já estava morta. A pessoa joga o lixo pra trás e acha que desaparece. Não são só coisas legais".
De acordo com um relatório feito pela ONG Oceana em 2021, 85% dessas espécies que ingeriram lixo nos mares estão sob risco de extinção, e 50% dos animais pesquisados haviam ingerido algum tipo de plástico ou microplástico. Materiais como sacolas, garrafas pet, canudos, tampas de caneta e garrafas pet são os mais comuns.
Nas praias de São Vicente, Santos, Guarujá e Bertioga, a ocorrência de animais marinhos aumentou em 57% em 2022, comparado ao ano anterior. Segundo o Instituto Gremar, responsável por monitorar a região, foram 944. Porém, apenas 161 estavam vivos. As fatalidades ocorrem geralmente por colisões com embarcações, ingestão de lixo e interação com petrechos de pesca e dragagem.
Esses animais resgatados são levados ao Centro de Reabilitação e Despetrolização de Animais Marinhos, em Guarujá. Lá, os especialistas os examinam e definem o melhor tratamento.
Laje de Santos
Criado em 27 de setembro de 1993, o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos abrange áreas emersas (Ilha Laje de Santos e rochedos conhecidos como Calhaus) e imersas (parcéis, fundo arenoso e a coluna de água). É a primeira unidade estadual a compreender o meio aquático marinho, sob administração da Fundação Florestal e Instituto Florestal, órgãos da Secretaria do Meio Ambiente.
Distante 45 km da praia, é considerado o melhor ponto de mergulho do Estado de São Paulo e o 3º do Brasil. A formação rochosa granítica tem 550m de comprimento, 33m de altura e 185m de largura. A temperatura fica em torno de 23º, com visibilidade de até 30 metros.
É um local de grande interesse para a conservação da diversidade biológica na costa paulista, nos meios terrestre, aéreo e submarino. Cinco espécies de aves marinhas insulares procriam na laje: o gaivotão Larus dominicanus; três espécies de trinta-réis (Sterna hirundinacea, S. eurygnatha e S. Maxima), que formam colônias no inverno, e o atobá-marrom Sula leucogaster, que nidifica durante o ano todo.
É a única ilha no Brasil que constitui sítio reprodutivo frequente destas três espécies de trinta-réis. As demais espécies são apenas visitantes. Ao todo, foram registradas 30 espécies de aves, sendo 17 marinhas e 13 não marinhas. A fragata, albatrozes e petréis, o falcão-peregrino e passarinhos, entre outras, compõem esta fauna alada abundante.
Segundo Alexandre, para mergulhar é preciso fazer um curso, misturando teoria e prática. Depois, é necessária comprovação médica de que a pessoa está apta para exercer a atividade. Os equipamentos essenciais para os iniciantes são nadadeira, roupa de mergulho, máscara e snorkel, muitas vezes fornecidos pela própria operadora de mergulho. Mas, claro, o mais importante do ofício é a coragem de desbravar as águas salgadas.
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