Entrevista de Domingo
Presidente da Licess conta como começou sua interação com o Carnaval e o que espera para enfrentar esse momento difícil
Por Alexandre Fernandes e Lucas Campos - Redação BS9
16/01/2022 - domingo às 07h00
Fabio Przygoda viu todo o planejamento do Carnaval 2022, iniciado em outubro de 2021, voltar praticamente à estaca zero - (foto: reprodução Facebook)
Quem convive de perto com Fabio Przygoda sabe o quanto ele ficou abalado a recente decisão da Prefeitura de Santos de suspender o desfile das escolas de samba da cidade, que estava marcado para os dias 18 e 19 de fevereiro. Não que tenha discordado da decisão, ao contrário. Mas viu todo o planejamento, iniciado em outubro de 2021, voltar praticamente à estaca zero.
E não foi só isso. Esse seria o primeiro desfile desde o início da pandemia, em março de 2020. E o primeiro sob a gestão de Przygoda como presidente da Liga Independente e Cultural das Escolas de Samba de Santos (Licess). Com a experiência de ter sido diretor-geral da escola Sangue Jovem, ele foi eleito em abril do ano passado, substituindo Benedito de Andrade Fernandes, o Ditinho.
Nesta entrevista que o Portal BS9 fez com ele, Fabio Pryzgoda discorre sobre todos os desafios e novos trabalhos feitos pela Licess durante esta pandemia, quais os próximos passos agora que o desfile foi adiado na cidade e qual sua opinião sobre o assunto. Conheça um pouco mais sobre essa importante figura do Carnaval santista.
1 - O senhor assumiu a presidência da Licess em 2021, em plena pandemia. Por que o senhor aceitou esse desafio?
Acredito que precisamos estar sempre preparados para novos desafios, independente do momento. Desde que eu e minha diretoria decidimos colocar nossos nomes à disposição para assumir a gestão da Liga, a prioridade tem sido trabalhar para que o Carnaval Santista possa atravessar mais este momento difícil. E o objetivo principal é profissionalizá-lo, o que certamente vai garantir sua autonomia a médio e longo prazo.
2 - E qual é o tamanho do prejuízo com essa suspensão dos desfiles anunciada pela Prefeitura?
Os prejuízos são grandes e afetarão todas as escolas, independente do investimento que cada uma já havia feito. Muitos ajustes serão necessários e a Liga vai dar todo o respaldo possível, inclusive na continuidade do diálogo com a Prefeitura e a Secult, para que algumas ações e contrapartidas sejam encaminhadas assim que a situação de saúde pública permitir.
3 - São Paulo e Rio de Janeiro estão, por enquanto, mantendo seus desfiles. Pelo que o senhor tem visto, essas cidades inevitavelmente vão acabar adiando também?
Não tenho essa resposta. Cada cidade vive uma situação diferente na pandemia e cada Carnaval tem a sua estrutura específica. A responsabilidade dessa decisão é dos órgãos de saúde pública. Aliás, quando iniciamos os preparativos aqui, deixamos claro desde o primeiro dia que o desfile só aconteceria de fato se tivéssemos esse aval da área da saúde. É por isso que não vamos nos calar quando o Carnaval for tratado de forma preconceituosa ou marginalizado injustamente por alguns setores da sociedade, inclusive aqui em Santos.
4 - Como tem sido lidar com a comunidade do samba, que, pelo segundo ano seguido, não consegue se apresentar? Existe muita pressão por parte das escolas?
É triste e frustrante para todos nós, estávamos ansiosos para o desfile. Mas a comunidade do samba já demonstrou ter empatia e entender a gravidade da situação em outras ocasiões e isso foi importante quando nos reunimos para tomar esta decisão junto com o Poder Público. Seguimos trabalhando e estaremos prontos para a retomada, seja ela quando for, esse é o pensamento.
5 - A Liga já vinha trabalhando na consolidação de um protocolo sanitário para a reta final dos ensaios nas Quadras e do desfile. Isto poderá ser reaproveitado assim que os próximos passos forem definidos, enquanto a pandemia ainda segue exigindo cuidados?
Sim. Com base no Plano São Paulo de combate à pandemia, criamos um manual de recomendações adaptado ao contexto dos ensaios de Quadra e do Desfile. Mesmo com o adiamento do desfile e o cancelamento dos ensaios, este documento será protocolado e encaminhado às agremiações, para que seja seguido nos próximos eventos, até o fim da pandemia.
6 - Durante esse período sem desfiles na sua gestão, a Licess vem realizando outros trabalhos?
Sim. Dentro da realidade permitida pela pandemia, realizamos apresentações e transmissões online que mantiveram nossas agremiações com visibilidade mesmo sem desfiles, apoiamos as ações sociais dentro de suas respectivas comunidades e realizamos uma Carreata Solidária que arrecadou mais de 6 toneladas de alimentos, que foram distribuídos em áreas de vulnerabilidade da cidade e também cestas básicas ao Fundo Social. Em breve serão iniciadas também escolinhas de Mestre-Sala e Porta-Bandeira e de passistas, com a chancela da Liga, o que vai ajudar a formar novas gerações de sambistas.
7 - Falando um pouquinho do senhor. Quando surgiu a paixão pelo Carnaval? Que lembranças o senhor tem dessa época?
Quando eu era mais novo, eu gostava de ver os desfiles na orla da praia. Mas a paixão surgiu mesmo quando comecei a frequentar os ensaios da Escola de Samba Brasil, junto com o pessoal da torcida Sangue Jovem, que naquela época ainda não era escola de samba.
8 - E quando surgiu a vontade de trabalhar no Carnaval?
Acredito que não trabalho no Carnaval, mas sim pelo Carnaval. Desde aquela época passei a acompanhar algumas escolas mais de perto, depois da Banda da Sangue Jovem, que, por fim, se tornou escola de samba. Foi acontecendo naturalmente e hoje estou aqui.
9 - Fazendo uma previsão bem otimista, com todos os trabalhos que terão de ser retomados depois, quando o senhor acha que os desfiles poderão ser realizados?
Seguimos dialogando com as agremiações, com a Prefeitura e com a Secult neste sentido. Estamos acompanhando atentamente a desaceleração da pandemia e assim que tivermos uma situação mais segura e viável na área da saúde, vamos retomar o planejamento e o cronograma. O objetivo continua sendo que as escolas se apresentem este ano, mesmo que em um formato adaptado às atuais circunstâncias.
Deixe a sua opinião