Rosane Farah - Bióloga, responsável técnica pelo Instituto Gremar - Guarujá
Rosane Farah
30/07/2021 - sexta às 12h08
Você sabe o que é um petrecho de pesca? O termo não é muito comum no dia a dia, mas ele serve para descrever os artefatos ou materiais usados no exercício dessa atividade, como redes, linhas, anzóis e armações.
Uma das grandes questões que os relaciona à conservação da vida marinha e seus ecossistemas, porém, é a forma como esses petrechos são descartados. Quando perdidos ou abandonados no mar, eles se tornam uma grande ameaça a centenas de milhares de mamíferos, aves e répteis.
Estudos indicam que, anualmente, mais de 640 mil toneladas de petrechos, de origem industrial, artesanal ou amadora, acabam no fundo do mar. E, desta forma, podem ferir, mutilar ou mesmo levar a óbito os animais marinhos, inclusive quando ingeridos.
Infelizmente, aqui no Instituto Gremar, observamos diariamente em nosso trabalho que este tipo de caso tem aumentado de forma exponencial. Por isso atuamos incessantemente em diversas frentes – tanto de forma educativa, como prática - para diminuir os impactos deste problema em nossa região.
Neste primeiro semestre, por exemplo, avançamos em uma importante demanda, que é o projeto Pesca & Recicla. Com o apoio das Prefeituras municipais e suas respectivas Secretarias, viabilizamos a distribuição de coletores de petrechos de pesca em pontos estratégicos do litoral, os chamados “ecopontos”, voltados especialmente para a coleta desses materiais provenientes da pesca de lazer.
A Praia do Sonho, em Itanhaém, os Decks do Pescador de Santos e de São Vicente e a Plataforma de Pesca de Mongaguá já receberam os equipamentos, todos inaugurados recentemente. Em breve, a iniciativa também chegará às cidades de Bertioga, Guarujá, Praia Grande e Peruíbe.
Nossa proposta com este projeto é promover a conscientização por meio da interação direta com pescadores amadores, profissionais e turistas que visitam esses locais. Os coletores possuem sistema de segurança e placas sinalizadoras autoexplicativas, com informações sobre a fauna local, os efeitos negativos causados pelo descarte incorreto dos artefatos e outros dados relevantes, como em relação ao consumo consciente do pescado.
Os petrechos depositados nestes Ecopontos são recolhidos por nossa equipe semanalmente e levados à base do Instituto, para separação em categorias. Parte deles segue para cooperativas especializadas em reciclagem e os que ainda podem ser reaproveitados passam por um processo de “logística reversa”, sendo transformados em novos produtos.
Ainda temos muito a avançar nesta ideia, inclusive aprimorando a logística do projeto para resultados ainda mais expressivos. Da mesma forma, temos redobrado esforços no intuito de orientar os frequentadores destes locais sobre não utilizar os coletores para descarte de lixo comum, o que dificulta a tarefa de nossas equipes.
Em linhas gerais, estamos muito otimistas quanto ao impacto positivo que este projeto poderá trazer não só à vida marinha em nossa região, como também ao aprimoramento das práticas da comunidade pesqueira, uma atividade econômica essencial e que merece toda estrutura e respaldo para que se desenvolva adequadamente.
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