Maurício Juvenal - Jornalista, especialista em Pesquisa Social e mestre em Letras
Maurício Juvenal
07/04/2022 - quinta às 00h00
Sempre olhei para o ex-juiz federal Sergio Moro com um tremendo sentimento de desconfiança. Quando digo sempre, me refiro aos primórdios dos julgamentos, em primeira instância, dos crimes identificados na Operação Lava Jato, há cerca de oito anos.
Ele sempre adotou um tom mesmo de magistrado, professor, de doutor da razão e dos bons costumes. Um cara acima de toda e qualquer suspeita. A versão brasileira do procurador italiano Antonio Di Pietro, que coordenou a Operação Mãos Limpas. Versão, aliás, cuspida e escarrada, já que ambos trocaram a toga pela política. E o mais engraçado, ambos dando a mesma justificativa, ou seja, dar continuidade à luta contra a corrupção por outros meios.
Não gostaria de entrar em juízo de valor sobre os processos julgados por Sergio Fernando Moro. Na verdade, porque me parece desnecessário. Tanto esforço, tanta energia, tanto gasto de dinheiro na operação – vale lembrar que ela custou cerca de R$ 16 milhões aos cofres públicos – para terminar de forma melancólica com a “absolvição” do principal réu, o ex-presidente Lula, por incontáveis falhas processuais, vícios de origem e outras coisinhas mais. E aí, ou o petista é de fato inocente ou o ex-juiz se mostrou um baita incompetente ao admitir esse mundaréu de erros.
Lava Jato à parte, o resto da história a gente meio que já sabe. De juiz implacável com políticos e empresários corruptos, se encantou com o convite para virar Ministro da Justiça, abrindo mão de uma carreira que lhe garantia ganhos vitalícios. Não deu certo e ganhou um novo “ex”. Virou, então, consultor em um escritório que prestava assessoria jurídica para empresas e empresários com nomes envolvidos em crimes de corrupção, algumas das quais que ele mesmo enfrentara enquanto juiz.
Logo veio a notícia que todos, no fundo, no fundo, já esperavam: Moro candidato à Presidência da República e evocando para si a responsabilidade de ser a “terceira via”, àquela que deixando Lula e Bolsonaro de lado, reuniria tantos quantos partidos fossem necessários para enfrentar a bendita, ou maldita, polarização. Partidos esses, é bom lembrar, rotulados pelo então juiz federal, como quadrilhas organizadas, prontas para assaltar os cofres públicos.
Bom, tudo isso para dizer que o “bom moço” de Curitiba mostra sua pior face agora, a pior até agora, quero dizer, ao trocar seu domicílio eleitoral para concorrer, por São Paulo, ao cargo de deputado federal pelo União Brasil, a fusão do DEM de Antônio Carlos Magalhães, Filho e Neto, com o PSL, de Bolsonaro, Zero 01, Zero 02, Zero 03... e companhia.
Mas que mal há nisso? Primeiro que ele não tem residência efetiva no Estado de São Paulo; segundo, que aceita se tornar puxador de votos no melhor estilo Tiririca. Como o maior colégio eleitoral do País é de São Paulo, quer ser campeão de votos e assim ajudar a eleger gente que não tem votos suficientes para se eleger.
Sim, é verdade. Moro não é culpado pelos vícios de origem do sistema eleitoral, onde os mais votados nem sempre são eleitos. Mas é de uma cara de pau fazer isso com o respeitado eleitor paulista e brasileiro. Costumo dizer e entender que peca mais quem conhece as escrituras. Em tese, Moro é um homem da lei, no caso dele com “éle” minúsculo mesmo, mas é um homem da lei. E não se furta, nem por isso, a tratá-la do modo mais grosseiro e ilegítimo que existe. Oportunismo político barato e de mau gosto.
Aos nossos leitores do BS9, não custa lembrar que ele faz toda essa troca a convite e tendo como padrinho um deputado federal que representa a nossa região da Baixada Santista e do Vale do Ribeira, o ex-vereador vicentino Júnior Bozzella, que se elegeu graças ao fenômeno eleitoral Bolsonaro e que pouco tempo depois abandonou seu presidente, passando a fazer ferrenha oposição. Bozzella é o principal responsável pela versão paulista de Moro. Os dois de fato devem ter muito em comum.
Cabe aos eleitores paulistas darem, nas urnas, em 2 de outubro, a resposta. O “ex” candidato à presidência Sergio Moro, ex-juiz, ex-ministro, ex-consultor, ex-candidato à presidência, merece de nós o título de “candidato derrotado, por São Paulo, à Câmara Federal”. Oportunismo eleitoral com a gente não. Com São Paulo não se brinca, ex-excelência. Com um pouquinho de capacidade de se envergonhar, o conselho, do Dr. Moro, é que o senhor abandone a vida pública. Opa, é claro, o senhor está morrendo de medo de ficar sem uma possível, mas pra lá de necessária, imunidade parlamentar. Dá para entender. Ver o sol nascer quadrado não deve mesmo ser lá muito agradável.
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