Sexta, 25 de Abril de 2025

DólarR$ 5,68

EuroR$ 6,43

Santos

19ºC

Os minerais no epicentro da desglobalização

Felipe Sampaio

18/04/2025 - sexta às 09h47

A mineração surgiu no dia em que um homem das cavernas catou uma pedra para se defender (ou atacar). Inaugurou aí também a competição humana pelo acesso aos minerais. E se na mesma ocasião a turma-do-deixa-disso chegou para apartar a briga, o episódio ainda terá completado o tripé (mineração–guerra–diplomacia) que define a geografia política e econômica até hoje.

 

Não é à toa que a história do progresso humano é representada pela evolução dos materiais a cada época: Idade da Pedra, do Cobre, do Bronze, do Ferro, do Silício (quem sabe, dos Terras Raras?). Cada uma dessas eras teve seus fatores e modelos de alianças e conflitos entre as nações, em função do uso dos recursos minerais, cada vez mais variados e essenciais para as nações e os negócios. No futuro não será diferente.

 

Quanto mais a ciência dos materiais industriais avança, mais complexas (e extensas) se tornam as cadeias de suprimentos espalhadas mundo afora. Centenas de novos minérios combinados em milhares de novos materiais, para a produção de milhões de produtos destinados a bilhões de consumidores. A ampliação dos mercados, multiplica também os sistemas produtivos, logísticos e financeiros transcontinentais. Isso exige paz e estudo.

 

Contudo, segundo Peter Zeihan (Mapeando o Colapso da Globalização, 2022), em breve a globalização será coisa do passado. Como consultor de estratégia da CIA e das Forças Armadas dos EUA, o autor observa que a globalização foi uma invenção do Tio Sam para consolidar sua supremacia após a II Guerra Mundial e conter a União Soviética, tendo como linha de costura o mercado internacional. Tudo garantido pela onipresença militar americana e pelo sistema multilateral bancado pelos EUA: ONU, OMC, FMI, Banco Mundial, OTAN etc. Foi bom para o PIB de todo mundo (e os ianques não precisaram ocupar dezenas de países ao mesmo tempo).

 

Zeihan acrescenta que, com o fim da Guerra Fria, a Casa Branca perde o motivo para manter essa dispendiosa estratégia de economia globalizada. Um esforço que, além do gasto direto com Defesa e com cooperação financeira internacional, custou ao país o desemprego de milhões de americanos, a segurança interna, o equilíbrio fiscal e a balança comercial.

 

Até Donald Trump foi capaz de notar que o mundo está em franca desglobalização e que grande parte das atuais cadeias de suprimentos (extensas e dispersas como estão) não se sustentarão no novo cenário fragmentado e competitivo, exigindo dos governos e empresas que revejam a validade de suas parcerias históricas, as configurações de suas exportações e importações e a estrutura dos seus mercados internos. Não é à toa que Trump “queimou a largada” em 2025, imaginando, do seu jeito, rearrumar os negócios internacionais, controlar as rotas marítimas estratégicas, barrar a voracidade chinesa e estancar o “custo Europa”, sem esquecer de exibir os músculos do Pentágono.

 

O Brasil tem mais uma vez a oportunidade de pensar a longo prazo ao combinar a matemática financeira com a equação geopolítica. Seja para commodities ainda estratégicas, como o ferro e o potássio, ou para os minerais críticos da era digital pós-carbono, a viabilidade das velhas cadeias transoceânicas precisará ser recalculada. A mineração continuará no foco de toda essa desglobalização (irreversível, na opinião de Peter Zeihan). Basta ver o estresse geral assim que a China ameaçou suspender as exportações de terras raras e ímãs, em reação ao tarifaço do Trump.

 

 

 

 

 

 

 

Felipe Sampaio: atuou em grandes empresas, organismos internacionais e 3º setor; foi empreendedor em mineração; cofundador do Centro Soberania e Clima; dirigiu o Instituto de Estudos de Defesa no Ministério da Defesa; foi diretor do sistema de estatísticas no Ministério da Justiça; é chefe de gabinete da secretaria-executiva no Ministério do Empreendedorismo.

Deixe a sua opinião

Últimas Notícias

ver todos

OPORTUNIDADES

Governo de São Paulo publica edital de concurso público para alunos-oficiais da PM

SEU BOLSO

AGU cria grupo para recuperar dinheiro das vítimas de fraude no INSS

SAÚDE

PG adquire novo veículo e amplia atendimento do 'Consultório na Rua'

2
Entre em nosso grupo