José Virgílio Leal de Figueiredo - Presidente do Instituto Arte no Dique
José Virgílio Leal de Figueiredo
10/08/2021 - terça às 15h53
Fiquei feliz quando ganhei minha primeira máquina de escrever. A usei e adorei por muitos anos. Bem como gostava pegar minhas fichas e ir ao telefone público (o famoso orelhão) mais perto de casa, para tentar falar com uma das minhas colegas de escola. Foram bons tempos. Mas eu não trocaria a eficiência do computador e do telefone celular pelas tecnologias mais antigas. Um erro de digitação na máquina de escrever e perdia o papel e precisava recomeçar tudo. Se caísse uma chuva lá estava eu, ilhado no orelhão. Ainda bem que as tecnologias avançam.
Abro a coluna desta semana desta maneira para comentar justamente essa sanha do presidente e seus seguidores para que, nas próximas eleições, voltemos no tempo e façamos uso do voto impresso. Ah, o voto impresso. Tempos em que a apuração das urnas era realizada aos gritos, com fiscais públicos e de todos os partidos envolvidos se amontoando uns sobre os outros justamente para ter a certeza de que não aconteceria nenhum tipo de corrupção, ladroagem, roubalheira na soma dos votos.
Como o mundo evolui, ou ao menos achamos que evolui, vieram as urnas eletrônicas. O sistema brasileiro de apuração é referência internacional. Em algumas horas conseguimos ter a noção de quem venceu a eleição, seja em qual seção eleitoral for. Diferente dos Estados Unidos, que ainda mantêm o sistema impresso e, bem, sabemos como foram a última eleição por lá e todo o tempo que ela levou.
Bolsonaro sabe que dia a dia perde público e credibilidade. Qualquer pessoa em sã consciência, mesmo quem tenha votado nele achando que a Velha Política seria algo do passado, não o apoia mais. Quem continua o apoiando ou fechou os sentidos à realidade ou não tem caráter mesmo. A quem interessa, então, o voto impresso? Ora, milicianos fariam a festa. Conseguem ligar os pontos? Nestas regiões, caso a apuração seja impressa, a oportunidade de milicianos manipularem e definirem os vencedores, conforme seus interesses, nas urnas dos bairros onde dominam, é bem maior. Recomendo o artigo “Por que o voto impresso será a alegria da milícia”, do Octavio Guedes, o Guedinho, do último 6 de agosto.
Não bastassem todos os retrocessos na economia, nas relações trabalhistas, na saúde, na cultura, no turismo (sim, viramos país párea e demais nações querem distância do Brasil), o atual (des)governo quer voltar no tempo para defender seus interesses, e não os interesses do país. Ainda bem que, mesmo com todos os problemas que permeiam o congresso nacional, deputados e senadores parecem não querer entrar nessa barca furada. Cabe à população ficar em cima e não se deixar levar, como tem ocorrido, por fake news e cortinas de fumaça diárias.
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