Márcia Faria Rodrigues - Médica pediatra e especialista em adolescentes (CRM 65275 SP)
Márcia Faria Rodrigues
18/10/2021 - segunda às 16h34
Minha mãe costuma dizer: “Não aprendeu nada e esqueceu a metade”.
Vamos mudar isso? Primeiro vamos relembrar alguns fatos importantes.
A gripe, Influenza A H1N1, causou cerca de 20 milhões de mortes entre 1918 e 1920 no mundo. O Covid-19 quase 5 milhões até agora.
Em 1920 o planeta possuía menos de 2 bilhões de habitantes, hoje são quase 8 bilhões. Ou seja, proporcionalmente, se acontecesse hoje, a gripe H1N1, variante de 1918, poderia matar 60 milhões de habitantes (mais de 10 vezes mais do que matou até agora o Covid-19).
Em 2009 uma nova VARIANTE da Influenza A H1N1 surgiu matando “APENAS” 200 mil pessoas no mundo. Mas 80% dessas mortes foram ABAIXO de 65 anos. OU seja, 160 mil mortes ocorreram abaixo de 65 anos. Já em ralação ao COVID 19, cerca de 80% das mortes ocorreram em pessoas acima de 65 anos.
Mas porque o H1N1 afetou tão menos os maiores de 65 anos? A principal hipótese é que esse grupo etário já possuía certa imunidade, seja por ter tido outras infecções por outras variantes do Influenza A H1N1 ou por já estarem sendo vacinados há anos contra a GRIPE, o que lhes conferiu proteção parcial contra essa nova variante. Ou seja, sem vacinas, poderiam ter havido 5 vezes mais mortes (cerca de 1 milhão de mortes).
Já os jovens, apesar de saudáveis, na sua grande maioria nunca haviam sido vacinados.
Agora vamos aos novos aprendizados: Vocês aprenderam com o COVID expressões como “nova variante”, “proteção parcial”, “vacina não é tudo igual” e com certeza aprendeu que “vacinas salvam vidas”.
Sim! Cerca de 2 milhões de vidas são salvas todos os anos graças às diversas vacinas existentes, muitas há mais de 50 anos! (sabe aquela desculpa de que a vacina foi desenvolvida muito rapidamente?).
No entanto, as coberturas vacinais no Brasil nunca foram tão baixas!
E doenças muito importantes como a GRIPE (sim ! Influenza A H1N1 e outras), Meningites, sarampo, e tantas outras, que ameaçam a vida de nossas crianças ameaçam voltar, principalmente com a volta às aulas e diminuição das restrições de circulação, uso de máscara etc.
Se falarmos em pessoas com menos de 5 anos, ocorreram cerca de 10 mil mortes por Covid-19 no mundo desde o início da pandemia.
Só a meningite, antes das vacinas, matava cerca de 3 mil mil crianças todos os anos! E, no entanto, apenas 20% dos adolescentes receberam a vacina contra meningite em 2020! Isso falando de uma vacina gratuita nos postos de saúde entre os 11 e os 12 anos de idade!
Mais de 30% das crianças não receberam a vacina pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus e Hepatite B) e 35% não foram vacinadas contra paralisia infantil!
Vai tentar entender ou explicar. Esse é o paradoxo: com medo de expor os filhos ao COVID-19, os pais não estão vacinando os filhos contra doenças que são muito mais perigosas para as crianças.
São dados de extrema preocupação e que exigem envolvimento de todos para ser solucionado: médicos, escolas, imprensa e não apenas o governo!
Façamos a nossa parte para superar esse paradoxo!
Converse com seu médico, leve seu filho ao Posto de Saúde ou Clínica de Vacinas mais próxima. Se é responsável por uma escola, solicite E VERIFIQUE corretamente a caderneta de vacinação todos os anos.
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