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Mundial, interclubes ou torneio de verão

Felipe Pupo - Professor de História e profissional da área da comunicação, com ênfase no trabalho voltado à Política, Esporte e Educação

Felipe Pupo

26/01/2022 - quarta às 10h56

Com a proximidade do Campeonato Mundial de Clubes, começam a pipocar nas redes sociais as discussões sobre a relevância das competições internacionais disputadas – e vencidas – pelos times brasileiros. 
 
A edição de 2021 (transferida para 2022) acontecerá em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, dos dias 3 a 12 de fevereiro, com a participação de sete equipes, incluindo o Palmeiras (atual campeão da Taça Libertadores) e o Chelsea (vencedor da Champions League).
 
No plano doméstico, os torcedores rivais protagonizam debates acalorados, com toques de humor e provocação, questionando o feito de seus oponentes. Os julgamentos dependem, é claro, dos critérios e das paixões clubísticas de cada pessoa. 
 
Afinal, qual torneio merece o status de mundial? A Taça Rio de 1951, vencida pelo Palmeiras, pode ostentar esse privilégio? E o mundial de Clubes conquistado pelo Corinthians em 2000? E o que dizer, então, da antiga Taça Toyota, com os triunfos de São Paulo, Grêmio e Flamengo?
 
Antes de analisar o mérito desse debate, é importante frisar que as competições citadas acima já receberam a chancela da Fifa, e os clubes foram reconhecidos como campeões mundiais. 
 
Apesar disso, a entidade máxima do futebol foi certamente, ainda que de forma indireta e não intencional, a maior ‘causadora de intrigas’ na polêmica do mundial. Embora as competições internacionais sejam disputadas há mais de 70 anos, a Fifa só assumiu a organização dos Mundiais no ano de 2000 e, de forma ininterrupta, a partir de 2005 (edição que sagrou o tricampeonato do São Paulo). 
 
Inicialmente, a entidade só chancelou as competições que ela, mesma, havia organizado, num ato de soberba que desprezou momentos marcantes da história do futebol. 
 
Com a pressão dos dirigentes, especialmente na América do Sul, a Fifa mudou a sua posição e estampou o ‘selo’ de mundial nos torneios mundiais de 1961 até 2004. Há alguns anos, a entidade também chancelou a Taça Rio de 1951, mas inexplicavelmente não oficializou a edição de 1952, conquistada pelo Fluminense sobre o Corinthians. 
 
Como não poderia ser diferente, a ‘corrida’ pela mundial fomentou os debates e provocações entre os torcedores brasileiros sobre os títulos homologados pela instituição. O título de 2000 foi chamado pelos rivais do Corinthians como “torneio de verão”, enquanto os alvinegros diminuíam o triunfo dos seus oponentes, afirmando que os outros torneios intercontinentais não eram ‘mundial’. A Taça Rio também foi alvo de muitas críticas, a ponto de ser comparada, pejorativamente, à cachaça tradicional brasileira.  
 
Dito isto, vamos entrar na seara deste debate. Do ponto de vista histórico, todos os Mundiais, desde 1951, contribuíram efetivamente para elevar a imagem do futebol brasileiro no cenário internacional. 
 
A Taça Rio, por exemplo, serviu para resgatar o brio e a autoestima de muitos torcedores, ainda não totalmente recuperados do revés na Copa do Mundo de 1950, marcada pela derrota brasileira na final para o Uruguai em pleno Maracanã (episódio conhecido como Maracanazo). 
 
Já na década de 1960, o mundo se encantou com a ascensão do Santos na era Pelé, o maior espetáculo já registrado na história do futebol. E nessa linha, seguem as conquistas do Flamengo (1981), Grêmio (1983), São Paulo (1992, 1993 e 2005), Corinthians (2000 e 2012) e Internacional (2006).  Todos os títulos, com as suas particularidades, guardam um valor desportivo e histórico incomensurável. 
 
No entanto, eu entendo que todas as competições deveriam ser classificadas como torneio intercontinental de clubes. De fato, a meu ver, nunca houve um campeonato mundial de fato, nem mesmo nas versões mais recentes organizadas pela Fifa. 
 
Defendo ainda que o mundial deveria ser uma espécie de Copa do Mundo de clubes, com fases classificatória e eliminatória, tendo mais de um representante por continente. Aí, sim, teríamos um legítimo campeão do planeta. No formato atual, sul-americanos e europeus disputam, no máximo, dois jogos, muito aquém do esperado para a glória eterna universal. 
 
Além disso, nas últimas duas décadas (pelo menos), os times europeus passaram a encarar a competição de forma protocolar, sem grande entusiasmo, sobretudo pela diferença de nível técnico com os seus adversários. No Velho Continente, o mundial é a Champions League.
 
Apesar dessas considerações, o debate está longe de qualquer tipo de consenso entre os amantes do futebol. E viva a zueira saudável das redes sociais!

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal BS9

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