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Em fevereiro (ainda) não teremos Carnaval. E agora?

Lúcio Nunes - Jornalista, colaborador da Liga Cultural Independente das Escolas de Samba de Santos (LICESS) e do Conselho do Samba de Santos

Lúcio Nunes

03/02/2022 - quinta às 00h00

Desde que a LICESS (Liga Independente Cultural das Escolas de Samba de Santos) anunciou o início dos preparativos para o desfile de 2022, em outubro do ano passado, noticiou-se amplamente que o evento só seria realizado caso as autoridades de saúde dessem seu aval em tempo hábil. 

A decisão, inclusive, foi tomada em conjunto com a Prefeitura Municipal e a Secretaria Municipal de Cultura.

Naquele momento, a situação da pandemia apontava um cenário mais promissor e era necessário dar aquele passo para garantir a excelência artística das apresentações e as necessidades técnicas de sua organização.

Claro que o cenário ainda era incerto e desafiador. Mas, graças a esta iniciativa, entre os meses de outubro e janeiro, centenas de pessoas tiveram a oportunidade de completar seu orçamento retomando atividades em ateliês e barracões, impulsionando um importante segmento da economia criativa local. 

As escolas de samba trabalharam e muito, apesar do curto espaço de tempo. Trouxeram de volta seus componentes, desenvolveram projetos artísticos de relevância e voltaram a ser uma opção bastante acessível de cultura e lazer à população, mesmo tendo que observar as restrições impostas pela pandemia.

O discurso chega a ser repetitivo, mas é importante: a produção dos desfiles das escolas de samba representa um essencial impulso econômico às comunidades que habitam o entorno das agremiações, a maioria em situação de vulnerabilidade social. 

Além disso, o evento valoriza e impulsiona o trabalho de profissionais de reconhecida competência (músicos, coreógrafos, artesãos, costureiros, entre outros), que não só garantem a qualidade do espetáculo como estimulam a formação de novas gerações identificadas com a arte e a cultura popular.

Apesar de tantos aspectos positivos, no último dia 10 de janeiro, em comum acordo com o Poder Executivo, a LICESS anunciou o adiamento do Desfile das Escolas de Samba, até então previsto para 18 e 19 deste mês. 

A decisão, como previsto, levou em conta o aumento de casos de Covid-19 pela variante Ômicron e o recente surto de gripe, que novamente colocaram em alerta as autoridades de saúde.

Passo atrás, passo à frente

Ainda que data e formato alternativos sejam discutidos em breve para que as escolas de samba possam se apresentar ainda em 2022 (este é o objetivo no momento), o adiamento gerou reações diversas na própria comunidade do samba - o que é absolutamente compreensível e democrático.

Por outro lado, vislumbrando o lado de fora da “bolha” carnavalesca, o passo atrás reforça a responsabilidade da Liga e das agremiações com o bem-estar coletivo e a imagem institucional do Carnaval Santista diante de seus parceiros, co-realizadores e, tomara, futuros patrocinadores. 

Acredito que, apesar da ansiedade de todos, a postura adotada neste caso será um trunfo importante no longo caminho rumo à profissionalização definitiva do evento, uma prioridade da atual gestão da Liga. 

Mesmo assim, é fato: para quem gosta e compreende o valor do espetáculo das escolas de samba, este fevereiro será tão doloroso quanto o de 2021. 

Talvez até um pouco mais. 

Afinal, basta olhar o noticiário para constatar o quanto a agenda de lazer e entretenimento estará movimentada na região durante este mês. 

Diversos eventos que deverão reunir um público até maior que o Desfile serão realizados “normalmente” e – vejam só – seguindo os mesmos protocolos que seriam adotados no acesso ao Sambódromo.

Preocupação “seletiva”?

Trabalho, competência e mobilização

Enfim, não é hora de esmorecer. 

O preconceito contra a cultura popular existe há mais de século e, convenhamos, hoje também reflete o pseudo-elitismo reinante na “terra da caridade e da liberdade”.

Para combatê-lo, é preciso trabalho, competência e mobilização.

Por isso, o melhor que a LICESS e suas agremiações podem fazer neste momento é voltar a promover eventos e atividades o mais rápido possível. 

Investir em um calendário de retomada diferenciado ajudará a manter a visibilidade do Carnaval e a atrair recursos e investimentos, mesmo com o prolongamento deste (ainda necessário) hiato.

A excelente live realizada pela Liga no último dia 26 de janeiro, aniversário de Santos, transmitida pelo Youtube e com quase 5 mil visualizações até o momento, é um exemplo do conteúdo de qualidade que nossas escolas de samba são capazes de apresentar. 

É, também, um spoiler do brilhante espetáculo que, tenho certeza, será apresentado na Passarela Dráuzio da Cruz quando a sirene finalmente voltar a tocar. 

 

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