Felipe Pupo - Professor de História e profissional da área da comunicação, com ênfase no trabalho voltado à Política, Esporte e Educação
Felipe Pupo
26/12/2021 - domingo às 17h59
No dia em que o Ronaldo Fenômeno anunciou a compra do Cruzeiro – uma operação inédita entre os chamados times da elite do futebol brasileiro -, participei de um encontro com velhos amigos para a tradicional resenha de final de ano. Entre brincadeiras, relatos triviais e algo mais sério sobre política, um amigo corintiano colocou a notícia mais quente do dia no centro dos debates:
-Você viu o Cruzeiro? O Ronaldo é um cara que tem faro para os negócios. Vai levantar o time e ainda conseguir uma boa grana.
O palmeirense, mais conservador, retrucou com um ar de pessimista:
-Tenho minhas dúvidas. Você já viu a dívida do Cruzeiro? Mais de 900 milhões de reais...
-Sério? Pô, então, devia ter investido os 400 milhões [valor estimado para a compra do clube mineiro] no meu Timão que está na Libertadores, brincou o fiel torcedor alvinegro.
Foi então que emendei:
-Vocês falam do Cruzeiro, mas e o todo poderoso Atlético-MG, que tem uma dívida de mais de 1 bilhão? Lá são quatro conselheiros que bancam tudo.
-Verdade. Por isso, estou confiante no trabalho da ‘tia’ Leila [Pereira, presidente do Palmeiras], aqui a gente tem gestão séria, profissional. Já o Corinthians..., provocou o palmeirense.
-Calma, calma. O Coringão vai ganhar muitas taças e pagar as suas contas. Esqueeece [sic].
E, nesse tom leve e provocativo, a prosa se estendeu por um longo tempo, com mais ênfase na administração e no poder financeiro dos times, deixando um pouco de lado aquelas velhas discussões típicas da mesa do boteco, como rivalidade, freguesia, número de conquistas, rebaixamento...
Num certo momento, eu me dei conta de que o futebol não mudou apenas dentro das quatro linhas, mas também na mentalidade do torcedor. Lá pela década de 1990, quando comecei a assistir as partidas e entender a modalidade, pouquíssimas pessoas se importavam com a administração de seus times do coração.
Os dirigentes eram mais conhecidos como cartolas (uma expressão pejorativa), quase sempre figuras folclóricas, que ganhavam as manchetes com as suas frases polêmicas e gestos excêntricos, como, por exemplo, o lendário presidente vascaíno Eurico Miranda.
A velha cartolagem, porém, foi incapaz de manter uma gestão equilibrada nos gigantes do futebol brasileiro, sendo que muitos deles se afundaram em dívidas e amargaram diversas situações de rebaixamento. O caso mais dramático foi o do Fluminense, que chegou a cair para a série C do Brasileirão, em 1998.
Mais recentemente, o Cruzeiro está pagando um alto preço pelas péssimas gestões e o descontrole financeiro. Rebaixado para a série B em 2019, o time mineiro se afundou em dividas [quase impagáveis] e passou um enorme sufoco, nos últimos dois anos, para escapar de um novo descenso para a série C. E, no jargão do futebol, surgiu o termo “cruzeirar”, uma espécie de modus operandi da falência, para os clubes que gastam além da conta. Veja que o Ronaldo Fenômeno não terá vida fácil...
Nesse contexto, o torcedor passou a ficar mais atento com a administração e o planejamento dos homens engravatados que ocupam a presidência das instituições. Em Santos, por exemplo, a imprensa local, os portais independentes e influencers realizam um trabalho sério e competente sobre os atos e decisões do Comitê de Gestão do Alvinegro Praiano, sempre provocando repercussão e engajamento entre os torcedores.
Talvez é o fim de linha para a velha cartolagem. Agora quem dá a bola é a gestão moderna, empreendedora e eficiente no futebol S/A.
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A coluna deseja a todos os leitores boas festas e um excelente ano de 2022, repleto de paz, alegria e prosperidade.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal BS9
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