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É possível formar professores?

Mônica Ferreira Costa - Pedagoga, Psicóloga, Mestranda em Educação na Unisantos

Mônica Ferreira Costa

12/05/2022 - quinta às 00h00

Quando terminou o último encontro da disciplina sobre formação de professores, na universidade, fiquei muito açodada – termo que minha avó usava - para escrever esse texto. Parecia-me urgente pôr as palavras no papel.
 
Pus-me a pensar: quantas possibilidades existem se buscarmos responder à questão: é possível formar professores? Posta assim a pergunta parece até uma bobagem, visto que é certo que se pode, ou ainda melhor, é obrigatória à formação de professores. No entanto, há inúmeras possibilidades de formação. Afirmo que é obrigatório e indispensável que, a priori, sejam apresentados os pressupostos teóricos que nortearão esta formação de professores, uma vez que sem estes não haverá como definir a quantidade destas “possibilidades”. 
 
Digo isso porque, se partirmos de pressupostos teóricos que sustentam que educação escolar é produto tão necessário e importante para sociedade que a formação de professores merece ser tratada apenas por especialistas. Estes teóricos da educação sabem que o professor tem papel muito importante nesta engrenagem e devem ser os melhores! Bem treinados e com materiais de grande qualidade, estes colaboradores entregarão conhecimentos diversos aqueles que buscam aperfeiçoamento e destaque na sociedade. 
 
Os donos de projetos com essa visão ambiciosa, técnica e futurística de educação sabem que devem oferecer a seus estudantes/clientes o que eles merecem: “o melhor projeto de educação do planeta: pensado, planejado e programado em etapas. Um saber pragmático, rápido, completo e acessível, que atenderá as necessidades de todo aquele que quer um saber de qualidade”. 
 
Não se pode ter uma educação nestes moldes sem defender que a formação para os professores é importantíssima, ou seja, precisa ser ministrada com ferramentas e tecnologias desenvolvidas por especialistas, pois estes sabem quais são os comportamentos, habilidades e atitudes (técnica do CHA) que estes profissionais devem seguir, a risca, para se tornarem os melhores profissionais. Estes professores terão sucesso, pois seus alunos serão aprovados nas melhores escolas e universidades de prestígio. 
 
Em outras palavras: quem pensa assim acredita que educação é mercadoria e a vendem como vendem sabonetes ou apartamentos. Acreditam que professores são peças de um sistema maior e que formação significa: pôr na forma. Por isso que é difícil dizer o número de possibilidades de formação para professores, com esta perspectiva teórica, pois milhares de empresas estarão dispostas a desenvolverem incríveis pacotes de formação (ou seria melhor dizer, de formatação?) e assim, surgirá uma gama enorme de cenários possíveis, neste bazar.
 
Se por outro lado descrevermos professores/ sujeitos serão poucas possibilidades, pois estes profissionais da educação terão outros princípios teóricos que compreendem que educação não é produto, é direito. Direito de todos e todas. Compreendem que os conhecimentos acumulados, por todos os humanos, são fruto de trabalho, de pesquisas das inteligências múltiplas; construção histórica e ontológica.
 
Ser educador, para estes, implica ser protagonista, portanto responsável por sua construção profissional; estes educadores sujeitos sabem que a história desta profissão é coletiva e se dá na relação com o outro, por isso compreendem o ato educativo como instrumento de reflexão e compromisso. Sabem que ser profissional da educação exige construir, principalmente no espaço público, pois lá estão os “excluídos da Terra” e entendem este espaço escolar como lugar de possibilidades. Educadores que desenvolvem o pensamento reflexivo e crítico com os estudantes sempre consideram suas vidas, suas histórias. Constroem na perspectiva da mudança, da cooperação, da igualdade, da justiça e da dignidade do humano. Reconhecem suas contradições e incertezas, mas trabalham através do diálogo, da leitura do mundo na tentativa de sempre produzir com arte e ciência os novos saberes e conhecimentos com seus educandos e não para eles ou contra eles. 
 
Por fim, é importante explicitar que os professores que atuam na escola pública no Brasil e se compreendem como sujeitos sofrem muito mais do que aqueles que ainda se veem como meros instrutores. Isso porque como o país não tem um projeto pedagógico para a escola pública, a cada Governo, aqueles que estão no comando do Estado tratam a escola pública - e tudo que lhe diz respeito, inclusive os professores e os estudantes - a partir de sua visão de educação, ou seja, a escola pública brasileira ainda é um receptáculo da proposta educacional “do momento”. 
 
Sou educadora que trabalha com princípios teóricos e práticos que conceitua educação como tempo de crescimento, de autoconhecimento e, portanto, de mudança. Estes princípios pressupõem que todo espaço, que tem a presença humana, é uma possibilidade educacional. Mas é na escola pública, da educação infantil à universidade, o lugar onde o projeto pedagógico que respeite a todos como sujeitos deve ser construído.   
 
Minha utopia diária é essa: construir com os educadores e educadoras do Brasil, não uma bolha ou um espaço fantasioso onde tudo pareça certo e bom, isso é tolice, mas espaços reais nos quais haja respeito, acolhimento, pesquisa, arte, espaço para os diversos corpos e para a alegria. Espaços públicos onde haja construção de conhecimentos e as pessoas possam ser. Lugares de educação emancipatória de verdade, comunidades pedagógicas de qualidade porque se sabem vivas, falhas e inacabadas. 

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