Lúcio Nunes - Jornalista, colaborador da Liga Cultural Independente das Escolas de Samba de Santos (LICESS) e do Conselho do Samba de Santos
Lúcio Nunes
09/03/2022 - quarta às 00h00
Responsável pela preservação e valorização da tradição do samba na cidade, o Conselho do Samba de Santos tem realizado um importante trabalho nos últimos anos, inclusive neste período de paralisação do Carnaval por conta da pandemia.
As origens da entidade remetem a um decreto municipal do então prefeito Oswaldo Justo, em 1985. No entanto, a ideia só saiu efetivamente do papel em 2014, contando com o esforço e a orientação do “Marechal do Samba” J. Muniz Jr., jornalista, escritor e historiador alagoano, que radicou-se em Santos para se tornar uma das maiores referências da história do Carnaval paulista.
Desde então, em gestões presididas por João Henrique “Makumba” (que teve como seu vice-presidente Jorge Simonal), Sérgio Luiz de Paula (vice-presidente Heldir Lopes Penha) e, mais recentemente, Carlos Alberto da Cruz (Beto O Magistral), reeleito em 2021 para seu segundo mandato (com Egle Rodrigues como vice no primeiro e Nenê da Brasil, no segundo), diversas iniciativas têm sido concretizadas para dar respaldo aos sambistas que ajudaram a engrandecer a trajetória da nossa cultura popular com seu sangue, suor e samba no pé.
Uma das primeiras medidas após a retomada foi a criação de uma “cartilha” para resgatar os princípios básicos do samba, fundamental para que algumas posturas e tradições pudessem ser atualizadas, desde os fundamentos rítmicos e artísticos do samba até a consolidação do respeito ao sambista e às suas lutas, historicamente marginalizadas por parte da sociedade.
Outra ação essencial foi o aprimoramento dos critérios para que os sambistas recebam as chamadas “patentes” – títulos que reconhecem sua contribuição à cultura do samba. A “hierarquia” hoje divide-se de acordo com o tempo de trajetória e concursos que avaliam desde currículo até os talentos de cada sambista.
Hoje, a primeira patente dentro do samba é a de Cabo. Com ela, obtém-se o direito de concorrer ao título de Cidadão Samba, válido por um ano. Após isso, o contemplado torna-se Embaixador do Samba e passa a ter direito a voto e a reconhecimento em todas as ações do Conselho. Entre as mulheres, as patentes se dividem entre Damas, Tias e Embaixadoras do Samba (estas após cumprirem um ano de mandato como Cidadãs Samba).
Vale ressaltar ainda o significativo espaço reconquistado pelo tradicional Concurso Cidadão e Cidadã Samba no calendário cultural da cidade. Em suas últimas edições, o evento lotou as dependências de tradicionais teatros da cidade, como o Municipal, Guarany e Coliseu - além de ter recebido maciça cobertura de imprensa.
Também receberam a assinatura do Conselho do Samba eventos como a “Noite das Rainhas”, que reuniu Rainhas dos Carnavais de outroa; o Concurso “Repinique de Ouro”, identificando e apresentando ao mundo do samba novos talentos do instrumento; e o Prêmio Destaques do Carnaval, apontando sambistas e profissionais que se destacaram no Carnaval 2020 (não necessariamente em quesitos avaliados pela Comissão Julgadora oficial).
Paralelamente à preservação das tradições sambistas, vale ressaltar ainda o trabalho social que o Conselho do Samba de Santos tem realizado, buscando, dentro de suas limitações de entidade sem fins lucrativos, angariar doações e recursos para a comunidade do samba, especialmente em tempos de pandemia. Todos os eventos são direcionados para a arrecadação destes itens, posteriormente distribuídos de próprio punho pelo Conselho e sua diretoria para aqueles que necessitam.
Enquanto esses elegantes e valorosos senhores e senhoras não riscam novamente o asfalto da Passarela Dráuzio da Cruz com seu samba no pé, aproveito este espaço para reverenciar todo o trabalho que vem sendo feito pelas últimas diretorias, que certamente vai impactar as novas gerações de sambistas que estão por vir.
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