Lúcio Nunes - Jornalista, colaborador da Liga Cultural Independente das Escolas de Samba de Santos (LICESS) e do Conselho do Samba de Santos
Lúcio Nunes
03/04/2022 - domingo às 00h00
Nesta semana, a Prefeitura Municipal de Santos e a Liga Independente Cultural das Escolas de Samba de Santos (LICESS) anunciaram a retomada do calendário de atividades Carnaval para setembro de 2022.
Segundo o comunicado, as agremiações participarão de um evento em comemoração ao bicententário da Independência do Brasil e, em seguida, do lançamento do Carnaval 2023, provavelmente em um almoço com atrações musicais, como já ocorrido anteriormente.
Com isso, consequentemente, o Desfile das Escolas de Samba nos moldes tradicionais completa dois anos de hiato. A última edição ocorreu em fevereiro de 2020, semanas antes da pandemia, consagrando como campeã a GRCES Unidos dos Morros.
A frustração da comunidade do samba e dos apreciadores da cultura das escolas de samba, claro, é enorme. E plenamente aceitável.
Mas, ainda assim, é preciso entender o contexto que levou a essa decisão e, mais que isso, unir forças para que o provável retorno seja arrebatador em 2023.
Vale lembrar inicialmente que, desde que a volta passou a ser planejada - sempre tendo como condição inegociável uma situação mais controlada em relação à pandemia -, a LICESS batalhou corajosamente para conciliar os interesses de suas filiadas às propostas trazidas pelo Poder Executivo.
Se não tivesse sido desta forma, nem a volta dos ensaios nas Quadras, nem os eventos importantes do pré-Carnaval, como o Sorteio da Ordem do Desfile, teriam ocorrido. Como se sabe, a pressão “seletiva” de parte da opinião pública pelo cancelamento do Carnaval era imensa – e, muitas vezes, preconceituosa e distorcida.
Não é segredo também, que, apesar dos esforços recentes das últimas gestões – a atual, presidida por Fábio Przygoda, por exemplo, assumiu durante a pandemia – o Carnaval de Santos não possui autonomia financeira e estrutural para ser reorganizado a curtíssimo prazo.
Isto hoje nos distancia de outros centros emergentes, como Vitória (ES) e Porto Alegre (RS), que terão seus desfiles em abril e maio, respectivamente.
Diante deste cenário, me parece claro que a presença das nossas escolas de samba no evento da Independência, se confirmada, será um passo vital.
Não só para que a cadeia produtiva do Carnaval volte a funcionar, mas também por mostrar o trabalho das escolas de samba para outros públicos, especialmente os que não costumam frequentar a Passarela do Samba Dráuzio da Cruz. Este “diálogo” é essencial para tentar transformar nossa realidade a médio e longo prazos.
Felizmente ainda temos o espetáculo, os artistas, o conteúdo e o conhecimento. Agora precisamos reaprender a valorizá-los, aproveitando todas as oportunidades possíveis para ampliar o leque de parceiros e gerar mais visibilidade, credibilidade e retorno ao evento.
Não tenho dúvidas de que essa é a fórmula ideal para que as escolas de samba voltem a brilhar no asfalto e a cumprir seu importantíssimo papel sociocultural perante as comunidades que as circundam, 365 dias por ano.
Que possamos acompanhar e participar ativamente deste processo. E que o nosso Carnaval retome seu protagonismo no calendário cultural da Baixada Santista em 2023.
De uma vez por todas.
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