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As escolas de samba voltaram no Rio e em São Paulo. Que seja a vez de Santos em 2023.

Lúcio Nunes - Jornalista, colaborador da Liga Cultural Independente das Escolas de Samba de Santos (LICESS) e do Conselho do Samba de Santos

Lúcio Nunes

03/05/2022 - terça às 00h00

O Carnaval da retomada finalmente se tornou realidade, ao menos no Rio de Janeiro e em São Paulo, os dois principais redutos das escolas de samba no país.

Em meio ao caos, às incertezas e aos ataques ‘seletivos’ contra a maior manifestação da nossa cultura popular durante a pandemia, as agremiações voltaram a pisar no asfalto mostrando força e resiliência, compensando o hiato de dois anos com um espetáculo arrebatador.

Finalmente pudemos ouvir de novo grandes sambas e baterias, perder o fôlego diante de belas alegorias e fantasias, e, principalmente, nos emocionar com a alegria dos sambistas anônimos reencontrando seus respectivos pavilhões.

Por outro lado, o ajuste improvisado ao calendário de abril fez com que tanto o Grupo Especial carioca quanto o paulista ocorressem nas mesmas noites, algo que havia acontecido pela última vez no longínquo ano de 1986.

Assim, não só os profissionais e artistas do Carnaval, como também o público que prestigia os desfiles nos Sambódromos e os próprios componentes tiveram de escolher onde estariam. Da mesma forma, a transmissão pela TV aberta teve de ser regionalizada (Rio para a rede, São Paulo para o estado), consolidando as plataformas de streaming e o Youtube como opções para que ninguém perdesse um detalhe sequer das apresentações.

Nesta verdadeira ‘maratona’, optei por assistir o Desfile do Rio na íntegra, seguindo uma tradição desde os tempos da minha infância. Tudo pelo streaming, com direito a trechos do acesso (Série Ouro) e, ainda no último fim de semana, da chamada ‘terceira divisão’ (Série Prata). Aliás, estes desfiles seguem disponíveis no Globoplay (Especial e Série Ouro) e na TV Alerj (Série Prata).

Claro que aprecio e tenho muitos amigos envolvidos no Carnaval de São Paulo (inclusive na campeã, Mancha Verde), mas, até por conta dos critérios de julgamento, que muitas vezes limitam o espetáculo paulistano ao cumprimento de itens da pasta entregue aos jurados, penso que a ‘concorrência’ com o Rio ainda é desleal. 

Felizmente, em 2023, os desfiles voltarão a ser realizados em noites distintas.

Enfim, voltando à Sapucaí: considero o título da Grande Rio indiscutível, gabaritado tanto nos aspectos técnicos, mas, felizmente, também sob o ponto de vista da emoção. Os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora foram brilhantes ao desmistificar o universo que cerca o orixá mais controverso das religiões de matriz africana (Exu), caprichando – não por acaso – no poder da linguagem e da comunicação direta com o público. Um desfile que ingressa automaticamente na antologia dos grandes Carnavais que passaram pela Sapucaí neste século.

Aliás, vale dizer que Bora e Haddad ‘puxam’ uma nova geração talentosíssima de carnavalescos, que inclui Leandro Vieira (recém-saído da Mangueira, onde conquistou dois títulos em seis anos), Marcus Vieira e Tarcísio Zanon (Viradouro), Jack Vasconcelos (Unidos da Tijuca), Edson Pereira (que deixa a Vila Isabel rumo ao Salgueiro) e João Vitor Araújo (Cubango), entre outros. 

A forma como têm trabalhado e mobilizado suas respectivas comunidades em torno de seus enredos - em sua maioria politizados e voltados às raízes da cultura popular, abordando temas como o preconceito, a intolerância e a justiça social – são a garantia que outras disputas tão parelhas estão por vir nos próximos anos. 

Afinal, em 2022, não é exagero dizer que, além das seis escolas que voltaram desfile das campeãs (Grande Rio, Beija-Flor, Viradouro, Via Isabel, Salgueiro e Portela), outras três fizeram desfiles que as credenciaram para a “briga” (Mangueira, Tijuca e Mocidade) e, por sua vez, Imperatriz Leopoldinense e Paraíso do Tuiuti estiveram longe de frustrar expectativas. 

Somente a São Clemente, com uma série de mudanças de rota ao longo dos meses de preparação para o Carnaval, é que realmente destoou deste conjunto. E, de forma justa, terá de buscar dias melhores de volta ao grupo de acesso em 2023 – o que já conseguiu em outros Carnavais.

Para encerrar, um clichê necessário:  todas as escolas de samba, sem exceção, no Rio e em São Paulo, foram vencedoras nesta retomada de 2022. 

Agora é esperar – e trabalhar – para que as coirmãs santistas trilhem o mesmo caminho no próximo ano, resgatando também o seu brilho na Passarela do Samba Dráuzio da Cruz.

 

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