José Virgílio Leal de Figueiredo - Presidente do Instituto Arte no Dique
José Virgílio Leal de Figueiredo
10/07/2021 - sábado às 11h12
Os dias passam e as sensações e sentimentos que sinto são complexos, variados, conflitantes e angustiantes. Há o alívio em poder ter sido vacinado e ver pessoas queridas recebendo suas primeiras ou segundas doses da vacina. Enquanto outras tantas, algumas próximas, faleceram por que não puderam ser vacinadas em tempo. Outras estão internadas pelo mesmo motivo. E muitas choram as perdas de familiares e amigos e/ou enfrentam a incerteza de quando filhos, netos, esposas, esposos, poderão estar protegidos do vírus.
É uma tortura psicológica, diária, que tem abalado a saúde mental de milhões de brasileiras e brasileiros: daqueles que têm boas condições de vida e, principalmente, de quem precisa batalhar a comida da vez. Não são poucas pessoas nesta situação.
Trata-se de estratégia nefasta, egoísta, mesquinha, de quem nos governa em âmbito federal. De pensamento totalitário, intolerante, e ao mesmo tempo tosco, iletrado, que lembra aqueles meninos mimados donos da bola que interrompiam a brincadeira e estragavam o prazer de todas as crianças por que algo não foi como desejava. Percebe-se o desejo em impor comportamentos, situações, vontades que não dialogam com o sistema democrático.
Sem condições de levar adiante as suas sandices e, ao perceber a falta de apoio popular, decidiu vingar-se da população de outra maneira: aproveitou a pandemia, que escancarou suas incompetências, para largar o povo à própria sorte, sem buscar a vacina, ignorando laboratórios, divulgando tratamentos precoces falsos, remédios sem eficácia, sucateando o SUS, paralisando o orçamento da saúde para 2021, e a lista não para.
Lógico que, aqui e ali, quando possível, solta suas bravatas e violência. Principalmente em cima de jornalistas mulheres. Mas na falta de poder torturar fisicamente sem ser preso, criticado, opta por nos legar uma tortura da mente. Mas nem exilio podemos pensar, pois a maioria esmagadora da população sequer tem condições de ir a uma cidade vizinha, quiçá deixar o país. Até por que, graças a ele e seus seguidores, hoje somos um país párea na comunidade internacional.
Está difícil. Mas para não encerrar este artigo de forma melancólica, prefiro lembrar de dois aniversariantes recentes e que marcaram minha vida e são influências do trabalho do Arte no Dique: dois baianos, músicos, compositores, cantores e cancerianos porretas, como costumamos dizer na Bahia.
Mestre Gilberto Gil completou 79 anos no último dia 26. É o padrinho do Arte no Dique, responsável por abrir as portas para a ONG em âmbito nacional, quando ministro da cultura. Passamos diversos momentos juntos nos anos 70, 80.
Raul Seixas faria aniversário em 28 de junho. O conheci na Praia da Pituba, quando jogávamos bola. Vi seu primeiro show. Conversava com sua futura esposa, Edith Wisner.
Ambos também têm em comum o fato de não terem se vergado à Ditadura Militar. Foram perseguidos, presos. Não entrem nessa falácia que Raul teria delatado Paulo Coelho, algo desmentido pelo próprio escritor. Assim como Gil e Raul, não podemos nos curvar e suas canções nos inspiram a seguir em frente.
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