Valter Batista - Professor de Geografia e História, especialista em Gestão Pública, Escolar, Neurociência e Psicopedagogia
Valter Batista
20/02/2022 - domingo às 00h00
Guarujá tem de seus habitantes vivendo em áreas subnormais. São cerca de 110 mil habitantes vivendo em precárias moradias, seja porque a construção não é segura, muitas em áreas de risco, ou mesmo porque não possuem as garantias legais de propriedade, estando sempre sob a ameaça de serem incomodados por autoridades, com objetivo de retirarem essas pessoas de suas casas. Se fosse uma cidade separada do restante de Guarujá, a periferia estaria entre as maiores 324 cidades brasileiras, que são as que apresentam mais de 100 mil habitantes, dos 5570 municípios brasileiros. E quem olha por esta Guarujá?
A pandemia da Covid-19 começou pelas áreas mais ricas. Veio do exterior, em aviões e navios, e espalhou-se entre os mais ricos primeiro, para depois ganhar as periferias. Nas casas estruturadas, as medidas protetivas indicadas, como lavar as mãos, usar álcool em gel ou mesmo evitar o contato social, parece coisa fácil. Mas nas periferias, as medidas de higiene indicadas, somadas ao isolamento social, tornam-se sentença condenatória. As autoridades pedem das pessoas o que muitas não têm, porque não é acessível a elas uma moradia organizada e estruturada. Dessa maneira, as medidas de proteção tornam-se mais um elemento de desigualdade, e a consequência é que se amplia ainda mais a curva de contágio nestas localidades. Sem acesso à água tratada, ou com acesso precário, como vemos acontecer por aqui, a possibilidade de bloquear a expansão do vírus diminui exponencialmente. Além disso, como falar em isolamento, para pessoas que lutam pela sobrevivência a cada dia? A fome e as necessidades básicas de sobrevivência obrigam essas pessoas a irem pras ruas, lutar pelo pão de cada dia.
E se este problema é grave, na gestão pública mais direta, há outra questão igualmente relevante. Os hospitais públicos estão no cerne desta discussão.
Guarujá não tem leitos hospitalares na quantidade adequada para o atendimento da população. Normalmente vemos pessoas pedindo intervenção de políticos para conseguirem vagas de internação ou mesmo atendimento médico. Em meio à Pandemia, foi necessário investir milhões na construção de estrutura de atendimento provisória, denotando que a falta de planejamento dos governos foi a responsável por esta situação infeliz, porque o dinheiro que sempre faltou para garantir uma saúde melhor, teve que aparecer para evitar que mais pessoas morressem sem atendimento neste momento.
Estão aí duas questões estruturais. Se a cidade abriga tantos problemas desta natureza, por que não se resolvem eles primeiro, uma vez que isso poderia ajudar no enfrentamento de crises com esta Pandemia? Moradias regularizadas e dignas e um sistema de saúde atendendo bem à população são duas medidas emergenciais, e a Pandemia demonstra isso nos números.
Os bairros com maior densidade populacional, maior quantidade de idosos e com menos acesso à água tratada, são os lugares em que o Coronavírus está encontrando a oportunidade de proliferação mais sustentada. As medidas emergenciais de enfrentamento à doença precisam considerar que não há caminho seguro, que não seja o de assegurar dignidade de moradia e atendimento de saúde eficiente e eficaz às pessoas. A crise passará, mas esses problemas seguirão existindo, por isso, é mais do que necessário que tenhamos clareza "do que se pretende fazer depois que tudo acabar".
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