Valter Batista - Professor de Geografia e História, especialista em Gestão Pública, Escolar, Neurociência e Psicopedagogia
Valter Batista
20/05/2022 - sexta às 00h00
Guarujá é uma das cidades mais ricas do país. Seu orçamento está entre os 60 maiores, entre os 5570 municípios do Brasil. Entre os paulistas, era o 17º. Riqueza e pujança na arrecadação contrastam com uma população enorme que vive em núcleos subnormais e que depende demais dos sistemas públicos, em particular de saúde e educação, áreas extremamente sensíveis para a questão social.
A prefeitura municipal é a maior empregadora, havendo mais de seis mil servidores efetivos, embora um número baixo em proporção com a população que é crescente. Calculam-se, ainda, mais de dois mil empregos diretos e indiretos que são ligados à livre nomeação da chefia do Executivo e a contratações por parte de empresas terceirizadas, que acumulam contratos para serviços que outrora eram prestados por servidores concursados.
Tanta riqueza gerida pelas mãos de políticos eleitos deveria promover um desenvolvimento humano mais efetivo, no entanto, o município acumula resultados insatisfatórios. Está dentre as que que têm o maior número de analfabetos, a estratégia de saúde da família atende a número pequeno de pessoas, quando comparado a outros municípios de mesmo porte na região, como a Praia Grande, e tem mortalidade infantil muito superior à média estadual. Cenário triste e que poderia ser diferente, fossem as administrações municipais comprometidas com a resolução dessas questões.
Nas últimas semanas a violência também deu sinais claros de que essa inação da gestão municipal com causas tão importantes provoca consequências. Efetivo policial estadual que não aumenta, ampliação do número de agentes da guarda municipal, que deveria ter papel de proteger o patrimônio público, fazendo as vezes da polícia militar, e o crime organizado comentado aos quatro cantos da cidade como um poder paralelo que determina o que quer para a cidade.
Com um prefeito acusado de corrupção e sob prisão domiciliar, vereadores suspeitos de estarem envolvidos e dinheiro da saúde e educação possivelmente desviados para campanha política e enriquecimento ilícito, a cidade perde até a esperança em dias melhores.
E embora nada possa ser paralisado, quando a questão é a administração de uma cidade, parece haver uma força poderosa restringindo as ações governamentais, a inércia. Mais do que nunca a cidade precisa de mão firme, de clareza de ideias e objetividade na gestão do orçamento, mas acima disso, que funcionem as estruturas, que a máquina pública siga o curso que precisa ser efetivado, que não falte a merenda nas escolas e que haja remédios nas farmácias populares. E não é babaca quem reclama quando faltam os serviços públicos, talvez o seja quem não assume suas responsabilidades, por inapetência ou por incompetência, mas principalmente, quem faz da arrogância a sua arma de defesa, num momento em que mais precisamos de equilíbrio e boa governança.
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