Gustavo Klein - Apaixonado por livros, filmes, música e séries, atua há mais de 30 anos como jornalista cultural
Gustavo Klein
15/08/2021 - domingo às 15h57
Poucas vezes na história a burrice e a ignorância estiveram tão bem representadas. Para onde se olhe, no mundo, a ausência total de raciocínio e conhecimento ou está no Poder, acabou de deixá-lo ou está muito perto de conquistá-lo. São tempos muito ruins para quem gosta de cultivar a esperança.
Esse cenário é o triunfo da deseducação, de décadas de descaso com o desenvolvimento de senso crítico, um tanto também de desencanto e, claro, os burros se sentem tão representados por quem está no poder que se tornam mais barulhentos, ainda mais nas redes sociais. Redes sociais que, aliás, nos fazem ter saudade do tempo em que cada aldeia possuía apenas um idiota.
E a culpa por termos bem mais de um idiota é da (falta de) educação. Educação para as artes, inclusive. Educação para a sensibilidade, para a reflexão, para o silêncio, também. As artes têm esse poder, de nos conectar conosco mesmo, com nosso “eu interior”. Parece papo de maluco mas não é, não.
E nesse aspecto, o da cultura geral, as escolas, a família e os educadores têm falhado miseravelmente. Somos, mais do que outros países, um Brasil de rasos, de gente que só gosta de funk porque só conhece o funk e não sabe que é plenamente possível curtir o funk e também ouvir Bach e Chico Buarque.
Todas as vezes em que eu vejo uma criança pequena que chega às lágrimas ao assistir à apresentação de uma orquestra, eu lamento. Por que tão tarde? Por que isso não faz parte do dia a dia dessa criança desde cedo, se Nietzche, há 150 anos, já dizia que a arte serve para não morrermos da realidade e da verdade?
Por uma educação artística que vá além da produção do presente do Dia dos Pais com palitos de sorvete. Que faça a criança enxergar o universo cultural que a cerca de forma muito mais ampla. Que a introduza no mundo da poesia, das artes visuais, da música e da literatura.
O objetivo disso não é transformar ninguém em artista. Isso até pode acontecer mas não é o objetivo principal. O que se luta é para que tenhamos uma sociedade que todos tenham acesso à arte e, assim, possam ter uma visão de mundo na qual ela também esteja presente e ajude a traduzir o que vivemos, a interpretar esse mundo. Assim, teremos melhores artistas e também melhores engenheiros, melhores advogados, melhores professores, melhores políticos. E um mundo melhor, por consequência.
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