EMPRESAS
Outras 30 lojas devem ser abertas no Paraná (onde a rede está presente em todas as cidades com mais de 25 mil habitantes) e em Santa Catarina
Folhapress - Daniele Madureira
30/03/2024 - sábado às 00h01
Divulgação
Sérgio Maeoka tinha uma decisão a tomar em 1986: a rede de farmácias que o empregava fechou as portas e ele pensava em abrir o seu próprio varejo de produtos farmacêuticos. O filho de cafeicultores já trabalhava no ramo desde os 14 anos, como office-boy. Foi também balconista e gerente, acumulando experiência em três pequenas redes do Paraná. Sabia que estava preparado.
Mas o dinheiro era curto: tinha US$ 10 mil (hoje cerca de R$ 50 mil) para começar. O ponto escolhido para a farmácia, em Curitiba, tinha 40 metros quadrados. Temendo não ter capital de giro para manter o negócio de pé, ele usou parte do dinheiro para abrir também uma pastelaria.
"Imaginei que não iria conseguir sobreviver, tendo família para cuidar, pagar aluguel, as despesas... Decidi montar a pastelaria, que era o meu plano B, e toquei os dois negócios juntos", disse Maeoka à Folha.
Foi assim que teve origem a Nissei, a sétima maior rede de farmácias do país, dona de 386 lojas, que em 2023 fechou faturamento de R$ 2,7 bilhões e lucro de R$ 8,6 milhões. Líder no varejo farmacêutico do Paraná, a empresa tem capital aberto, mas suspendeu o plano de IPO (oferta pública de ações) em meio à pandemia e ainda aguarda o melhor momento para negociar as ações.
Enquanto isso, mira a expansão na cidade de São Paulo e região metropolitana, Baixada Santista e Vale do Paraíba, regiões em que a Nissei desembarcou em outubro a partir da compra de pontos da Poupafarma, que está em recuperação judicial. A rede curitibana hoje é dona de 50 lojas em território paulista e deve dobrar o tamanho no estado até o final deste ano. Das 50 novas lojas, 20 devem estar na capital, boa parte delas na periferia.
"Não vamos abrir lojas em shopping, onde a margem é muito reduzida", diz Maeoka. "Prezamos nossos custos operacionais."
Outras 30 lojas devem ser abertas no Paraná (onde a rede está presente em todas as cidades com mais de 25 mil habitantes) e em Santa Catarina, estado que soma 20 pontos de venda. O investimento aproximado na expansão é de R$ 80 milhões, ou R$ 1 milhão por loja, em média.
AS MAIORES REDES DE FARMÁCIAS DO PAÍS
Segundo ranking da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias)
Raia Drogasil
(Droga Raia e Drogasil)
DPSP
(Drogaria São Paulo e Drogaria Pacheco)
Pague Menos
Farmácias São João
Panvel
Drogaria Araújo
Nissei
Drogaria Venancio
Farmácia Indiana
Drogal
Os pontos da Nissei contam com um diferencial: vendem itens de conveniência e produtos de mercearia, no estilo das drugstores americanas. Assim, é possível encontrar pão, leite, iogurte, salgadinhos, palmito e café nas gôndolas da rede, dividindo espaço com analgésicos e antitérmicos.
"É como um Oxxo, um pouco menor", brinca Maeoka, referindo-se à rede de lojas de conveniência do grupo Nós (resultado da associação entre a brasileira Raízen e a mexicana Femsa), que acaba de atingir a marca de 500 lojas inauguradas em três anos de operação. Na Nissei, a conveniência responde por 9% a 12% das vendas, uma fatia significativa em comparação à concorrência, onde os itens de conveniência costumam ter importância marginal.
"A maioria dos concorrentes tem chicletinho no checkout e uma geladeira de bebidas", diz Alexandre Maeoka, presidente da Nissei, o filho mais velho do fundador (a irmã, Patrícia, não trabalha na rede). "Algumas lojas maiores têm freezer de sorvete. Mas nós temos o sorvete, o chiclete, o salgadinho, a bisnaguinha, o pão de hambúrguer, somos grandes revendedores de Coca-Cola", diz o CEO, formado em Engenharia da Computação. "Afinal, de analgésico você não precisa todo dia. Mas de leite, sim."
Para atender a expansão, o grupo vai abrir no segundo semestre um novo centro de distribuição na região metropolitana de São Paulo. "A reposição nas lojas é feita três vezes por semana", diz Alexandre.
Os recursos para expansão vêm de um aporte de R$ 179 milhões feito em dezembro pela família Maeoka, e de uma emissão de R$ 250 milhões em certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) realizada em julho.
"Deixei de depender de pastelaria para abrir farmácia a partir da quarta loja Nissei", diz Maeoka, um "sansei", neto de japoneses, que para cada uma das três primeiras lojas Nissei que abriu, inaugurou também uma pastelaria. "Você faz o pastel hoje, vende e o dinheiro entra", diz Maeoka. "Na farmácia, você precisa montar estoque e esperar o cliente. Não dava para arriscar."
Ele não tinha experiência com pastéis ou qualquer outro tipo de quitute: depois de aprender sobre controle financeiro, gestão de estoque e de pessoas nas redes de farmácia onde trabalhou, foi fazer um curso de salgados. Os oito primeiros anos tiveram um ritmo alucinante de trabalho.
"Eu chegava à pastelaria por volta das 6h da manhã. Deixava os pastéis prontos, o café, e um pouco depois das 7h ia abrir a farmácia, que ficava do outro lado da cidade", diz. A ex-esposa, a mãe e a irmã do empresário tocavam a pastelaria. Na hora do almoço, como o movimento era grande, Maeoka voltava para ajudar e almoçar. Depois regressava à farmácia e voltava de novo para os pastéis no fim do dia, para deixar a massa pronta para o dia seguinte.
"No começo eu tinha um Chevetinho. Mas depois tive que vender o carro e fazia tudo de ônibus", diz o empresário de 63 anos. "Tinha que me virar, né? O dinheiro da pastelaria era para sustentar minha família."
Em 1994, vendeu as pastelarias para se dedicar apenas ao varejo farmacêutico. Na capital paulista, onde a colônia japonesa é expressiva e o consumo de pastéis é uma paixão local, Maeoka não pensa em reviver os velhos tempos.
"Tenho uma boa lembrança do passado, a pastelaria me ajudou bastante. Mas agora é hora de conquistar São Paulo com as farmácias."
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